Recentemente, uma notícia vinda do “mundo religioso” ganhou por quase uma semana notoriedade em todo ocidente através dos principais telejornais e portais da internet. Tratava-se de uma declaração do Papa Bento XVI exonerando os judeus da culpabilidade pela morte de Jesus. Posição esta que o pontífice expressou no segundo volume de seu mais novo livro publicado nesta semana sob o título “Jesus de Nazaré”.
A notícia causou reações diversas e debates de internautas sobre a legitimação dessa declaração, o que é compreensível entre pessoas sem nenhuma base bíblica, teológica e histórica sobre o assunto. O que causaria estranheza seria ver teólogos e estudiosos debaterem um assunto já resolvido nas Sagradas Escrituras. Assim, em uma segunda postagem tratarei sobre este assunto a luz da Palavra de Deus. Por ora, direi apenas que a culpa pela morte do Senhor Jesus ultrapassa as barreiras da nacionalidade, etnia e da religiosidade. Desta forma, irei por enquanto, analisar nesta postagem a verdadeira intenção do Vaticano através desta declaração.
Segundo consta em alguns noticiários, essa manifestação do papa foi feita com base em seu suposto estudo comparativo de passagens do Novo Testamento, especialmente os evangelhos de Marcos e João, o que poderá levar alguma pessoa a pensar que Bento XVI está preocupado em transmitir o correto ensino da Bíblia sobre este assunto. E isso não é verdade! O verdadeiro propósito do líder romano (lê-se vaticano) por traz desta declaração é acabar com um mal-estar gerado há séculos nas relações entre a Igreja Católica Romana e a Comunidade Judaica. Pois, historicamente, diversos líderes católicos têm tratado e dito coisas sobre judeus que chegam às raias do anti-semitismo.
Só para se ter uma idéia, a revista Notícias de Israel trouxe uma matéria publicada em dezembro de 2001 denunciando atitudes extremas de festejados padres contra judeus há muito séculos atrás. A referida matéria dizia que “St. Hipólito (falecido em 236 d.C.) escreveu que os judeus deveriam ser escravos dos povos não por 70 anos, nem por 430 anos, como no Egito, mas para sempre. St. Atanásio (295-373), que goza de grande veneração como mestre da igreja e é lembrado a cada ano, ensinava que os judeus são piores que o diabo. St. Efraim (306-373), cuja memória é celebrada anualmente, louvava: "Salve, ó igreja, que estás livre do cheiro dos fedorentos judeus!"[1].
Nem mesmo o admirado reformador Martim Lutero escapou da denúncia. Pois o mesmo, com relação aos judeus, escreveu a infeliz recomendação para sua comunidade: "Quero dar-lhes um precioso conselho. Em primeiro lugar, queimem as suas sinagogas e escolas com fogo, e o que não queimar cubram com terra para que pessoa alguma veja delas sequer uma pedra ou ruína para sempre. Isso deve-se fazer em honra a nosso Senhor e ao cristianismo, para que Deus veja que somos cristãos"[2].
Um fato recente aconteceu em janeiro de 2009 quando o bispo católico Richard Williamson provocou a ira entre os judeus ao fazer declarações em entrevista à televisão sueca que negavam o holocausto. Ele havia dito o seguinte: "Eu acredito que não houve câmaras de gás"[3]. Estas provocativas palavras do bispo Richard repercutiram no mundo todo e trouxe muito constrangimento para Bento XVI.
A realidade é que essa mentalidade esteve presente na liderança católica por muito tempo. Por isso, não é de se admirar que a Igreja Católica carregue sobre si o pecado de não ter feito publicamente nada para denunciar a loucura de Hitler durante a segunda guerra mundial no que diz respeito ao assassinato de milhões de judeus. Aliás, em nome da diplomacia, a liderança católica alemã cometeu vexatoriamente durante esse período negro na história da humanidade a terrível decisão de apoiar os nazistas, conforme demonstra o trecho de uma pastoral emitida por bispos da Alemanha, em setembro de 1939, bem no inicio da Segunda Guerra Mundial, que dizia em parte o seguinte: “Nesta hora decisiva, admoestamos nossos soldados católicos a cumprir com seu dever em obediência ao Führer e a estar prontos para sacrificar toda a sua individualidade. Apelamos para os fiéis, para se juntarem em orações fervorosas, a fim de que a Providência Divina leve esta guerra a um bendito êxito”[4].
Diante de fatos como esses, é fácil entender que essa atitude tomada por Bento XVI não passa de uma tentativa política de se “redimirem” perante a nação Israel e ainda recuperarem o seu prestígio diante da comunidade internacional. E, não é a primeira vez que o papa toma este tipo de atitude. Em 2009, por exemplo, antes de o pontífice viajar para Israel em mais uma de suas visitas, ele pediu perdão aos judeus pelo holocausto, dizendo as seguintes palavras: “Estamos profundamente entristecidos pelo comportamento das pessoas que fizeram sofrer seus filhos e, ao pedir perdão, desejamos nos dedicar a uma verdadeira fraternidade com o povo da Aliança”[5].
Portanto, a divulgação do referido livro de Bento XVI no qual ele “isenta” os judeus da culpa pela morte de Cristo, e que foi recebida com alarde pela mídia secularizada, não passa de uma tentativa de aliviar uma antiga tensão existente entre o Vaticano e Israel. Diante disso, é perceptível que não há nenhuma intenção do papa de dar a comunidade cristã um parecer bíblico e exegético sobre o assunto. É pura estratégia do Estado Vaticano em recuperar uma influência política que já vem diminuindo há muito tempo.
Por fim, para nós cristãos evangélicos resta-nos aprender com a história e com a Bíblia. Com a história, para não cometermos os mesmo erros do passado, não dando crédito à inúmeras propagandas e reportagens anti-semitas propagadas pela grande mídia. Com a Bíblia, para que aprendamos com ela a amar e orar por Israel, reconhecendo o chamado e os planos de Deus para este povo querido. “Orai pela paz em Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam.” (Salmo 122:6)
Por enquanto é só isso. Na próxima postagem darei um parecer bíblico sobre o assunto.
Um abraço a todos!
Referências:
[1] Beth-Shalom, Disponível em: http://www.beth-shalom.com.br/artigos/teologos.html >. Jaguaré, Espírito Santo, Brasil. Acessado em: 11 de Março de 2011.
[2] Beth-Shalom, Disponível em: http://www.beth-shalom.com.br/artigos/teologos.html>. Jaguaré, Espírito Santo, Brasil. Acessado em: 11 de Março de 2011.
[3] G1 - O portal de notícias da Globo, Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL980206-5602,00-BISPO+QUE+NEGOU+HOLOCAUSTO+PEDE+DESCULPAS+AO+PAPA.html>. Jaguaré, Espírito Santo, Brasil. Acessado em: 11 de Março de 2011.
[4] Blog do Tony Ramos, Disponível em: http://blogdotony.com.br/2010/01/11/guerra-dos-governos-contra-as-religioes>. Jaguaré, Espírito Santo, Brasil. Acessado em: 11 de Março de 2011.
[5] Notícias Relevantes, Disponível em: https://silviasaron.wordpress.com/2009/02/13/papa-bento-xvi-confirma-viagem-a-israel-e-pede-perdao-por-holocausto>. Jaguaré, Espírito Santo, Brasil. Acessado em: 11 de Março de 2011.
1 Comentários
Bento VI é sábio, está correto, não sou anti-semita e penso o mesmo.
ResponderExcluirCaro internauta, fique à vontade para expressar suas críticas, sugestões, complemetos ou correções. Deus te abençoe!